16.7.11

A lição de Realengo

No último dia 7, a tragédia da Escola de Realengo (RJ) completou noventa dias. Passados a comoção e o forte impacto, provocados pela tragédia, potencializados pelo sensacionalismo de uma mídia do espetáculo, quem ainda se lembra daquelas cenas de horror, a não ser as crianças e adolescentes que sobreviveram ao terror e seus familiares, diretamente atingidos pela explosão de loucura de um jovem doente, também ele vítima de uma sociedade violenta da qual se vingou, punindo-se, em seguida, ao suicidar-se.

Nos primeiros dias após o pavoroso acontecimento, muito se falou sobre ele. Os especialistas da alma e do comportamento humano tentavam encontrar os possíveis motivos dos atos tresloucados do infeliz rapaz. Diferentes hipóteses foram aventadas.

Nenhuma, porém, suficiente para explicar o que teria provocado tamanha explosão de ódio contra garotos indefesos e, note-se, as meninas foram o alvo preferido do assassino, o que sugere provável aversão às mulheres.

O fato é que a tragédia nos impactou a todos e gerou perplexidade e ansiosa busca de explicações para o inexplicável. Todos se perguntavam por que tanto ódio e sede de vingança.

À medida que os dias foram passando e a comoção coletiva diminuía, a racionalidade se impôs para que pudessem ser levantadas possíveis causas dos atos violentos cometidos e, mais importante, buscar saídas para evitar outras tragédias e proteger potenciais vítimas de situações semelhantes.

Neste sentido, devemos resgatar experiências realizadas no passado, com algum sucesso, mas que não tiveram continuidade, em razão da cultura política que determina o comportamento dos gestores públicos que, quase sempre, interrompem políticas e iniciativas de seus antecessores sem considerar o interesse público.

Destaco, entre outras, o Programa Nacional Paz na Escola, que envolveu os Ministérios da Justiça e da Educação, e que durou de 1999 a 2005. Tinha como principal objetivo tornar a escola um lugar seguro e propiciador de paz e de convivência feliz.

Referido Programa fundamentava-se na compreensão de que a resposta ao problema da violência na escola não está em cercar o prédio com muros altos; nem instalar detectores de metais nas entradas; nem em aparato policial.

Estas têm sido soluções fáceis e simplistas, apontadas por autoridades para um problema complexo cuja origem não está no ambiente escolar, mas, sim, na família e na sociedade e envolve vários aspectos.

Em parceria com instituições públicas e privadas, movimentos sociais e comunidades locais, o Programa desenvolvia projetos e ações em todo o país, com vistas a estimular uma convivência na escola marcada por solidariedade, cooperação, tolerância e respeito mútuo.

Experiências como essa devem ser recuperadas e adotadas por governos em parceria com a sociedade civil organizada, no enfrentamento dos mesmos problemas que, ainda hoje, nos desafiam e que assumiram dimensão de tragédia no caso de Realengo.

Jamais devemos esquecer o martírio de crianças e adolescentes, cujas vidas foram bárbara e precocemente ceifadas e que as lições da tragédia sejam aprendidas e sirvam de alerta para que nunca mais algo semelhante aconteça.

Que as escolas sejam, de fato, um espaço de convivência onde crianças, adolescentes, educadores e pais construam juntos uma cultura de paz.

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Luiza Erundina é deputada federal pelo PSB

Fonte:http://www.brasileconomico.com.br/noticias/a-licao-de-realengo_104100.html

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4.7.11

Ex-viciado em drogas, prefeito cria comunidade terapêutica no RS

Um prefeito do Rio Grande do Sul, ex-viciado em drogas, inaugurou uma comunidade terapêutica para dependentes químicos que é totalmente bancada com recursos do município.

O prefeito Vicente Pires, 48, foi usuário de cocaína e crack até os 33 anos. Após passar meses internado em uma comunidade, ele se recuperou, começou a ministrar palestras e virou figura conhecida em Cachoeirinha (região metropolitana de Porto Alegre).

Entrou na política, se elegeu vereador e agora é prefeito pelo PSB. Criou um projeto para reabilitação de dependentes e decidiu tentar montar um centro como aquele onde se recuperou.

Inaugurada em abril, a comunidade terapêutica funciona em uma chácara na área rural do município e atende 30 pacientes ao custo de R$ 18 mil mensais.

Os internos trabalham no local e são atendidos por psiquiatras e assistentes sociais. Em encontros fechados, eles trabalham com as técnicas emprestadas de grupos como os Alcoólicos Anônimos.

A experiência levou Pires a um encontro com a presidente Dilma Rousseff para falar sobre centros de tratamento a dependentes na semana retrasada.

Segundo o município, Cachoeirinha tem a primeira comunidade do tipo bancada por uma prefeitura no país. No SUS (Sistema Único de Saúde), os dependentes químicos podem ser atendidos em Centros de Atenção Psicossocial e hospitais.

CAMPANHA

O prefeito conta que se notabilizou no município por falar abertamente sobre as drogas. "O assunto começou a ser conversado. As pessoas começaram a ver: [ele] está do nosso lado, eu tenho familiar, tenho um vizinho que está naquela situação."

Há, no entanto, quem discorde na cidade das iniciativas da prefeitura. "A sociedade é meio crítica. Dizem: 'vai gastar dinheiro público com drogado'", diz Pires.

Na eleição municipal em 2008, o passado de usuário de drogas foi explorado pelos adversários, conta o prefeito. "Subiam em carro de som e me chamavam de traficante, de ladrão, maconheiro. Mas as pessoas começaram a trabalhar a nosso favor, sabiam que eu já não era."

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